Somos 300 mil
brasileiros na Flórida, segundo relatório de 2010 do Ministério das Relações
Exteriores (Brasil), e uma das nossas necessidades é a ampliação da oferta do
ensino de português para nossos filhos nas escolas. Como educadora e
pesquisadora, tomei a questão como um desafio e iniciei uma pesquisa sobre
falantes de português nos EUA.
Debrucei-me
sobre dados recentes do U.S. Census
comparando-os com o relatório “Brasileiros no Mundo” do Ministério das Relações
Exteriores (Brasil). A disparidade entre eles é intrigante.
Havia, segundo
o censo americano, 661.437 falantes de português vivendo nos EUA em 2008. Esse número
refletiria os falantes de português provindos de todos os países: Portugal,
Brasil, Angola, Cabo Verde, Timor Leste, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e
Príncipe. No entanto, segundo
o relatório do MRE de 2008, a estimativa apenas de brasileiros era de 1.278.650
(número baseado em serviços prestados pelos postos consulares). No último
relatório do MRE seríamos atualmente 1.388.000 brasileiros nos EUA.
Por que tantos
falantes de português não aparecem na contagem americana? Uma implicação direta
dessa invisibilidade é a significativa falta de escolas que oferecem o
português como programa complementar ou como educação bilíngue.
Considero
algumas hipóteses para explicar essa invisibilidade intrigante. Uma, é de que
muitos brasileiros não participam do Censo americano por medo de que seus dados
sejam revelados. O que dizer a esses brasileiros? Os dados do Censo são
protegidos por leis rigorosas e esse medo mostra-se irracional.
Levanto ainda a
hipótese de que alguns falantes de português não se classificam corretamente ao
responderem à pesquisa. Primeiramente porque os brasileiros não
representam uma categoria clara e acabam misturados à classificação de Hispanic or Latino na folha de respostas.
A segunda questão é que muitos falantes de português classificam-se
erroneamente no critério “língua falada em casa”.
Sim, desde
criança nos ensinam que somos integrantes da América Latina, mas para o Censo
americano a categoria Latino
refere-se aos povos de cultura espanhola. Portanto, quando nos assinalamos como
Hispanic or Latino na folha de
resposta, estamos deixando de ser contados como um povo que pertence à cultura
dos falantes de português.
A outra
hipótese para explicar porque somos invisíveis nos EUA é de que muitos falantes
de português marcam incorretamente a opção “língua falada em
casa” . Na folha da pesquisa americana
aparece a opção língua “indo-europeia”, na qual se encaixa o português. Mas
acredito que muitos se classificam na opção “outras”. A implicação disso tudo: nossos
impostos não se destinam para escolas oferecerem o ensino de português.
Nossos filhos
apenas desenvolverão a capacidade plena de usar a língua portuguesa em seus
diversos registros se receberem instrução. É preciso organizar grupos e mostrar
essa necessidade nas escolas de nossa região. Somos muitos, mas somos minoria.
Nossas necessidades precisam ser contempladas, mas primeiro, precisamos nos
tornar visíveis e nos fazer ouvir.
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