sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Os falantes invisíveis




Somos 300 mil brasileiros na Flórida, segundo relatório de 2010 do Ministério das Relações Exteriores (Brasil), e uma das nossas necessidades é a ampliação da oferta do ensino de português para nossos filhos nas escolas. Como educadora e pesquisadora, tomei a questão como um desafio e iniciei uma pesquisa sobre falantes de português nos EUA.
Debrucei-me sobre dados recentes do U.S. Census comparando-os com o relatório “Brasileiros no Mundo” do Ministério das Relações Exteriores (Brasil). A disparidade entre eles é intrigante.
Havia, segundo o censo americano, 661.437 falantes de português vivendo nos EUA em 2008. Esse número refletiria os falantes de português provindos de todos os países: Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, Timor Leste, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. No entanto, segundo o relatório do MRE de 2008, a estimativa apenas de brasileiros era de 1.278.650 (número baseado em serviços prestados pelos postos consulares). No último relatório do MRE seríamos atualmente 1.388.000 brasileiros nos EUA.
Por que tantos falantes de português não aparecem na contagem americana? Uma implicação direta dessa invisibilidade é a significativa falta de escolas que oferecem o português como programa complementar ou como educação bilíngue.
Considero algumas hipóteses para explicar essa invisibilidade intrigante. Uma, é de que muitos brasileiros não participam do Censo americano por medo de que seus dados sejam revelados. O que dizer a esses brasileiros? Os dados do Censo são protegidos por leis rigorosas e esse medo mostra-se irracional.
Levanto ainda a hipótese de que alguns falantes de português não se classificam corretamente ao responderem à pesquisa. o se classificam corretamente ao responderem a folhaorreta. jam revelados. Mas sabemos que os dados do Censo sPrimeiramente porque os brasileiros não representam uma categoria clara e acabam misturados à classificação de Hispanic or Latino na folha de respostas. A segunda questão é que muitos falantes de português classificam-se erroneamente no critério “língua falada em casa”.
Sim, desde criança nos ensinam que somos integrantes da América Latina, mas para o Censo americano a categoria Latino refere-se aos povos de cultura espanhola. Portanto, quando nos assinalamos como Hispanic or Latino na folha de resposta, estamos deixando de ser contados como um povo que pertence à cultura dos falantes de português.
A outra hipótese para explicar porque somos invisíveis nos EUA é de que muitos falantes de português marcam incorretamente a opção “língua falada em casa” . Na folha da pesquisa americana aparece a opção língua indo-europeia”, na qual se encaixa o português. Mas acredito que muitos se classificam na opção “outras”. A implicação disso tudo: nossos impostos não se destinam para escolas oferecerem o ensino de português.
Nossos filhos apenas desenvolverão a capacidade plena de usar a língua portuguesa em seus diversos registros se receberem instrução. É preciso organizar grupos e mostrar essa necessidade nas escolas de nossa região. Somos muitos, mas somos minoria. Nossas necessidades precisam ser contempladas, mas primeiro, precisamos nos tornar visíveis e nos fazer ouvir. 

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