segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Entre dois Mundos (novo texto no Gazeta Brazilian News)


Como muitos imigrantes nos EUA, os brasileiros comumente vivem entre dois mundos: o privado, em que falam português e no qual tentam preservar alguma identidade cultural, e o público,  em inglês. Dessa forma, muitas famílias preocupam-se com a habilidade de seus filhos em manipular a língua portuguesa, sejam eles nascidos no Brasil ou não. É uma questão de identidade, de preservação dos laços familiares e de oportunidades futuras.
Nós, pesquisadores, chamamos de Língua de Herança essa língua que circula com restrições, limitada a um grupo social ou ao ambiente familiar, e que convive com outra língua predominante que circula socialmente em mídias e instituições.
  É muito comum os falantes de herança” aprenderem o vocabulário utilizado no ambiente familiar e, quando não recebem instrução formal, delimitarem-se apenas ao conhecimento desse registro oral. Para desenvolver a capacidade oral e escrita em vários registros linguísticos diferentes, incorporando traços de uma variante linguística de prestígio, é preciso receber instrução.
            Geralmente, após iniciar a imersão escolar em inglês observamos uma mudança na língua dominante de nossos filhos. A língua maternal, no nosso caso o português variante brasileira, passa a ser menos utilizada e torna-se a “língua fraca”. Essa situação se acelera quando os pais acreditam que falando inglês com seus filhos, ajudarão no bom desempenho deles na escola. É importante sabermos que nas pesquisas realizadas aqui nos EUA, essa crença parece não se mostrar verdadeira: o fato de os pais falarem inglês com seus filhos não garante que eles tenham melhor desempenho escolar, no entanto isso contribui para que nossos filhos percam sua língua de herança.
            Os estudos indicam que é melhor que os pais mantenham a língua materna, pois como eles a conhecem melhor (geralmente possuem habilidade linguística de nativos), podem proporcionar um contato mais rico e mais elaborado com essa língua que dominam. Preservar a língua do mundo familiar é uma questão de identidade, mas também de criar oportunidades para as crianças continuarem o desenvolvimento cognitivo e emocional (autoestima) em sua língua de herança.
            Viver entre dois mundos linguísticos requer cuidados, mas é importante lembrarmos que uma língua não é uma disciplina escolar, é um objeto cultural que faz comunicar, criar intercâmbios. Aproveitemos as oportunidades para enriquecer o contato com o português em nosso mundo familiar ao utilizá-lo em sua função concreta de estabelecer relações: escrever um bilhete, ler um jornal, comentar um programa de televisão, etc.
            De forma criativa e alegre, vamos procurar oferecer textos de vários contextos e registros e utilizá-los para conversas e brincadeiras com nossos filhos?  


http://gazetanews.com/colunas/entre-dois-mundos-nosso-idioma/

Um comentário:

  1. Ôe!ôêe!!Bom dia pessoas de pouca fé!
    Oi Ivian! Fui seu aluno no cursinho da Poli em 2005 (parece distante escrevendo agora), esse ano de 2005 mudou muito minha vida. Talvez um dia te explico melhor.Você foi uma ótima professora na minha formação, lembro muito de seus conselhos e de suas frases.Passei no Mack e estudei lá durante um tempo. Hoje estou na USP, terceiro ano de Artes Plásticas, sua aula sobre vanguarda me ajudou a passar na prova. Fiquei feliz em te 'encontrar' aqui. Eu pretendo falar inglês de forma fluente e ir morar fora. Vou tentar ler seu blog sempre que der. Um abraço forte, um OBRIGADO maior ainda.

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