Quando penso no ensino do português
como língua de herança minhas ideias se povoam de pessoas: nos pais, que se
engajam no projeto de criarem filhos bilíngues, por vezes com a incompreensão e
a falta de apoio da família, e nas crianças que colhem aqui e acolá peças
isoladas de uma língua-cultura para darem sentido ao mosaico de sua identidade
de herança. Esse esforço não ocorre simplesmente porque será bom, no futuro,
ser bilíngue, esse esforço se dá porque essa língua representa uma ligação
afetiva e cultural que se expressa no espaço da família e de uma pequena
comunidade, quando há.
Nesse contexto, conheci professores
que se dedicam a ajudar essas famílias a construírem esse mosaico de uma
língua-cultura-identidade de herança. Alguns desses professores trabalham
isoladamente e outros participam de escolas comunitárias pelo mundo. Dedico-me
a refletir sobre as escolhas curriculares desses professores de língua de
herança (LH).
Entre outros aspectos, proponho a
esses professores uma reflexão inicial: quais as expectativas de aprendizado que
essas famílias mantém em relação às habilidades de fala, escuta, leitura e
escrita para seus filhos? Essas expectativas estão relacionadas a quais
contextos de usos sociais?
Por
exemplo, se a preocupação das famílias é unicamente manter os laços com os
parentes distantes, as habilidades de ler e escrever podem ser direcionadas a
contextos informais como bilhetes, cartas e e-mails que utilizam um registro
mais próximo da oralidade. No entanto, se houver o desejo de preparar os
aprendizes para atuarem como bilíngues profissionalmente no futuro, haverá a
necessidade de explorar diferentes registros linguísticos e habilidades, como por
exemplo falar em público utilizando um registro formal e escrever textos de
acordo com a gramática normativa. Cabe
aos professores, às escolas comunitárias e às famílias discutirem e acordarem sobre
o caminho para que os aprendizes colham suas peças e construam seu mosaico ao
longo de sua vida.
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