O trabalho com Línguas
de Herança (LH) visa à ampliação da capacidade de expressão dos aprendizes que,
geralmente, está delimitada ao registro informal oral da língua e circunscrita
ao vocabulário do ambiente familiar. Por isso, além de ter por objetivo o
desenvolvimento da modalidade falada da língua para registros formais e a
ampliação do vocabulário para diferentes domínios linguísticos, é comum que as
iniciativas de línguas de herança busquem o desenvolvimento das habilidades de
leitura e de escrita desses alunos.
Por que expandir a
manipulação da língua da modalidade oral para a escrita? Primeiro, para que o
aluno participe mais amplamente de uma herança linguístico-cultural; em segundo,
para um desenvolvimento mais amplo da capacidade de compreender e produzir
textos nesta língua; em terceiro, para o desenvolvimento de um pensamento mais
lógico-abstrato na língua-cultura.
Como então
podemos entender os conceitos de alfabetização e letramento e como podemos
situá-los no contexto do ensino de línguas de herança? Na língua portuguesa é
comum distinguir duas etapas do processo de aprendizado da leitura e escrita, a
alfabetização, que pode ser entendida como o processo de instrução formal de
decodificação das letras, das sílabas, das palavras na página, e o letramento,
que é o aprendizado da manipulação (na leitura e na escrita) dos textos em seus
contextos sociais.
Na educação,
dissociar alfabetização e letramento mostra-se um equívoco porque o aprendizado
da leitura e da escrita deve ser baseado nesses dois processos, o de
decodificação e codificação, como também o de leitura e escrita contextualizadas
como atividades sociais.
O que isso quer
dizer? Quando apenas focamos em atividades de decodificação ou codificação dos
fonemas e letras, não estamos ensinando o aprendiz a se comunicar de fato com
alguém por algum propósito, por outro lado, é preciso ensinar o processo de
correspondência entre fonema e letra para que se possa ler e participar das
atividades sociais de leitura e escrita. Daí ser impossível dissociar a
alfabetização do letramento, esses processos são interdependentes.
Quais as
implicações da alfabetização e do letramento nas LH? Primeiro, ampliar o acesso
a uma herança linguístico-cultural que consequentemente será uma outra maneira
de criar elos de pertencimento para o aprendiz. Segundo, fazer desses alunos
sujeitos que produzam textos e que participem de um repertório
linguístico-cultural escrito o que os tornará muito mais preparados e efetivos
em diferentes situações comunicativas.
O objetivo de
nossas aulas é que os alunos tornem-se sujeitos que produzam textos orais e
escritos como também saibam ler e compreender essas duas modalidades de textos
para que haja efetivamente uma situação de comunicação. Retomo minhas ideias do
artigo anterior, que tratou de uma reflexão sobre o conceito de língua no
contexto do ensino de línguas de herança: os aprendizes precisam entender que a
língua existe na função de comunicar, expressar algo para alguém, de realizar e
organizar nossos desejos, pensamentos e ações para o outro e para nós mesmos.
Texto publicado na plataforma Brasileirinhos wordpress
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